A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o mundo terá um défice de vacinas contra a cólera até 2025 e que um bilião de pessoas de 43 países podem ser infectadas com a doença. África responde: Presente!
Num alerta para o aumento de casos de cólera em todo o mundo, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) sublinha que esta “é uma emergência”, defendendo que é necessário “intensificar a imunização para conter” este cenário.
No entanto, o maior problema é o acesso à vacina e uma parceira da OMS nessa área, a Aliança Global de Vacinação – Gavi, já alertou que a falta de doses deverá persistir até 2025, noticiou o portal ONU News.
De acordo com a Gavi, é possível garantir uma entrega de doses para a vacinação preventiva em larga escala até 2026, mas para isso, os países precisam de agir com urgência.
Actualmente, 24 países registam casos de cólera e, de acordo com a OMS, a doença pode espalhar-se para 43 nações, colocando 1 bilião de pessoas em risco.
Entre os factores para que as pessoas sejam infectadas estão a pobreza, conflitos, alterações climáticas e deslocamentos. Por outras palavras: África. “As movimentações afastam as pessoas de fontes mais seguras de comida, água e assistência médica”, alerta a OMS.
No ano passado, os casos e as mortes por cólera aumentaram, registando-se uma expansão para nove novas regiões, particularmente de conflito e com altos níveis de pobreza. Só Angola tem 20 milhões de pobres.
A situação levou a OMS e parceiros a mudar temporariamente o regime das doses administradas para prevenção de duas para uma. No entanto, as reservas esgotaram-se em Dezembro, acrescenta o portal. Até ao final de 2022, um total de 15 países relataram casos, número que até maio chegou a 24 nações.
A OMS calcula que mais 10 milhões de unidades de vacinas foram utilizadas para responder a surtos entre 2021 e 2022. A procura foi maior do que a soma de toda a década anterior, acrescentou.
Para o director administrativo da Gavi para Mercados de Vacinas e Segurança de Saúde, Derrick Sim, “a boa notícia é que existem doses para manter o atendimento a toda a procura de emergência, apesar do aumento de surtos”.
Para Derrick Sim, é obrigação das autoridades “prevenir surtos”, além de serem realizar esforços colectivos para revitalizar programas de prevenção.
A OMS já tinha alertado para um cenário sombrio em relação às perspectivas para controlar a doença a curto prazo.
Têm sido registados surtos de cólera em Angola em pelo menos quatro províncias do país desde 2017. Nove milhões de pessoas estão em risco, sobretudo durante a época das chuvas.
Do ponto de vista da propaganda oficial, na sequência dos vários surtos, o Governo de Angola desenvolveu e orçamentou um plano de preparação, prevenção e resposta à cólera. O Ministério da Saúde tem intensificado a vigilância dos casos e está em estreita e constante coordenação com as autoridades de saúde provinciais.
O UNICEF Angola, em parceria com as autoridades nacionais e locais, reabilitou vários pontos de água desde o início de 2017, assegurando o acesso a água potável. As áreas afectadas pela cólera receberam também guias e produtos para o tratamento de água, de forma a garantir a melhor qualidade possível.
A Comunicação para o Desenvolvimento (C4D) tem actuado através de programas de rádio e iniciativas porta-a-porta para a promoção da higiene, mensagens sobre a lavagem de mãos e tratamento de água.
O UNICEF faz a monitorização de dados epidemiológicos e o seu programa de Educação actua junto aos professores para a promoção de hábitos preventivos em relação à cólera.
A resposta do UNICEF passa igualmente por um investimento e actividades na preparação para as emergências, nomeadamente nas áreas da água e saneamento e comunicação para o desenvolvimento, para evitar que novos surtos sejam registados no país.
Recorde-se que o Governo do MPLA (é o único que temos desde a independência) aprovou em Abril de 2016 legislação (e isso é coisa que faz sem grandes problemas) para enquadrar médicos no Serviço Nacional de Saúde, num processo “célere” e “menos burocrático” face à “necessidade de aumentar a cobertura médica urgente no país” e a assistência sanitária às comunidades.
A informação constava de um decreto presidencial que entrou em vigor no final de Abril de 2016, e que lembrava o investimento na formação e capacitação de médicos que já estavam (afirmava o MPLA) “disponíveis para trabalhar”, numa altura em que só a capital angolana estava a braços com epidemias de febre-amarela e malária, com mais de 400.000 pessoas afectadas.
O mesmo decreto definia que o ingresso na categoria de interno “faz-se mediante concurso documental” para licenciados em medicina, à parte das normas sobre a entrada no funcionalismo público.
O Governo anunciou também que iria recrutar 2.000 médicos e paramédicos, angolanos, recentemente formados no país e no estrangeiro, para reforçar o combate às epidemias, que deixaram os hospitais de Luanda sobrelotados.
O ingresso como médico interno geral passou a ser feito por contrato individual de trabalho celebrado com o Ministério de Saúde, pelo período de um ano, renovável automaticamente.
“A renovação do contrato individual de trabalho fica condicionada ao bom desempenho profissional e comportamental”, lê-se no mesmo decreto, assinado pelo então Presidente José Eduardo dos Santos.
No início de Abril de 2016 foi noticiado que o Estado iria avançar com a admissão excepcional de novos funcionários públicos para a saúde, educação e ensino superior em 2016, segundo uma autorização presidencial.
A informação constava de um decreto assinado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, no qual foi “aprovada a abertura de crédito adicional” ao Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2016, no montante de 31.445.389.464 kwanzas (166 milhões de euros), “para pagamento de despesas relacionadas com novas admissões”.
Há uns anos, o médico angolano Maurílio Luyela considerou que o colapso do Serviço Nacional de Saúde em Angola é o resultado da má gestão dos recursos financeiros e humanos por parte do Ministério da Saúde.
O especialista em saúde pública disse à VOA (Maio de 2016) que o sector debate-se actualmente com a falta de pessoal qualificado porque, por alegada falta de verbas, não abriu qualquer concurso público para a admissão de especialistas angolanos que se formam nas faculdades do país. Talvez agora, se se cumprir esta promessa, a situação melhore.
Maurílio Luyele acusava os gestores do Ministério da Saúde de acharem mais importante comprar carros de luxo para directores em detrimento de equipamentos hospitalares. Actualidade inequívoca e perene…
“É mais fácil comprar carros de luxo para directores ao invés de materiais hospitalares e não há técnicos suficientes para atender a demanda, mas temos médicos angolanos que saem das faculdades que não são admitidos na função pública porque não há como pagá-los”, acusou.
Entretanto, o governo anuncia (também é algo em que se tornou perito) o reforço das medidas de combate à malária. O plano de combate a essas doenças foi analisado, em 2018, na província de Benguela, numa reunião do Conselho de Governação Local, dirigida pelo Presidente João Lourenço, e integra medidas e recursos financeiros.